São pouco mais de 11 horas da manhã na Praça
Santos Dumont, na Gávea, e Rosanne Mullholland está terminando de fazer as fotos
para a Revista da TV. Com um macacão estampado, cabelos soltos e maquiagem, ela
pouco lembra a caretinha professora Helena, sua personagem em “Carrossel”. Mas
isso parece não fazer a mínima diferença para os alunos dos dois colégios
estaduais localizados por ali. Basta o sinal da saída tocar para as crianças
aparecerem e começarem se aglomerar em volta da atriz, a quem só chamam de
Helena.
— As crianças geralmente se aproximam e
perguntam sobre a minha vida, pedem um abraço. Mas isso que está acontecendo
hoje é inacreditável! Nunca havia acontecido comigo! — surpreende-se ela ,
enquanto começa a distribuir infindáveis autógrafos em cadernos e a posar para
celulares e câmeras fotográficas.
Os minutos vão passando e as crianças nem
pensam em dar sossego à atriz. Em grupo, elas a seguem até um restaurante
próximo. Os mais desinibidos vão até a mesa onde Rosanne está e imploram um
último contato. Pacientemente, ela atende um a um.
Para ela, não há outra opção a não ser se
acostumar com o assédio. Desde a estreia de “Carrossel”, em 21 de maio, no SBT,
a atriz vem experimentando um reconhecimento ainda inédito em sua carreira: o
sucesso popular.
— Nessa primeira fase da minha carreira, sempre
busquei priorizar o cinema, então não busquei tantas oportunidades na TV. Mas,
ao longo dos anos, senti falta de estar mais perto do público — justifica.
Carreira no cinema
Rosanne pode se gabar do seu trabalho na tela
grande. Após sair de Brasília, aos 23 anos, para se dedicar à profissão, no Rio,
ela começou a ser notada em 2005, depois da participação em “A concepção”, de
José Eduardo Belmonte. Nas mãos do mesmo diretor, fez “Meu mundo em perigo”, em
2006. Daí por diante, foi acumulando papéis em longas como “Nome próprio”, “14
Bis”, “O magnata” e “Falsa loura”.
— Chamo Belmonte de mestre, e ele fica bravo
comigo (risos), mas tudo que aprendi de cinema foi com ele — diz ela,
enquanto tenta explicar por que é tão requisitada no meio da sétima arte. — As
pessoas dizem que eu fotografo bem e que cresço na tela. E eu também acho que
tenho um ritmo mais do cinema. Sou mais tranquila, gosto de pausas, de entender
o que estou fazendo. A TV tem um ritmo acelerado que não é natural.
Não que ela tenha algo contra a televisão. Em
2010, aceitou integrar o jornalístico “A liga”, para ganhar experiência, embora
saiba que não nasceu para apresentar. Já a oportunidade para viver a icônica
Helena veio sem tempo para pensar. O teste, ela fez com Jean Paulo Campos (o
Cirilo na novela). Dois dias depois, estava aterrissando em São Paulo para
o início das gravações:
— Foi meio no susto mesmo. Estava filmando um
longa em Brasília e, quando cheguei em São Paulo, foi o tempo de ajeitar o
cabelo, conhecer o diretor e começar a gravar.
Construindo Helena
Para dar vida a Helena, Rosanne preferiu algo
mais subjetivo, ela conta. Afinal, havia assistido à versão mexicana e não
queria somente copiar o jeitinho doce da professora da Escola Mundial. Buscou
referências nas princesas da Disney e em Kate Middleton. Também relembrou o
período em que ensinou inglês para crianças. E, claro, fez bom uso de sua
formação em Psicologia. Sim, além de atriz, ela é psicóloga.
— É muito difícil fazer a mocinha porque ela é
aquele ser quase idealizado, perfeito, o que gera muitas limitações. Eu tinha na
cabeça que Helena teria que ser encantadora. Ter aquele brilho no olho e um
sorriso reconfortante — analisa.
E, embora tenha feito personagens autorais no
cinema, Rosanne não sabe se interpretar Helena a colocou ou a tirou de sua zona
de conforto. O que ela sabe é que, desde que começou a atuar, abriu a
cabeça:
— Eu sempre fui muito tímida e era
conservadora, mas a vida me pregou várias surpresas. E eu gosto dessas
pegadinhas, sabe? É difícil quando o personagem tem um grande conflito, mas é
também complicado quando ele é bem resolvido. Helena é muito correta, segue
regras. Tem muita fé na vida, acha que tudo vai dar certo. Eu fico surpresa
(risos) — pontua Rosanne, admitindo que já foi bastante ansiosa, mas
agora está melhor.
Talvez o sucesso tardio na TV seja fruto dessa
inquietude. Ela própria reconhece que temia não conseguir colocar em prática
tudo o que pretendia. Mas, com a chegada da idade, diminuiu as
expectativas.
— Quando a gente é mais novo, parece que o
mundo vai acabar no dia seguinte e temos que fazer tudo naquele momento. Eu me
sentia assim com relação ao cinema. Mas amadureci e percebi que ainda tenho
tempo para realizar — diz a atriz, de 31 anos.
Planos para o futuro
Entre as futuras realizações, está a construção
de uma família com o músico Kelder Paiva, com quem está há quase dez anos, e que
ficou no Rio. Nada que a ponte aérea não resolva.
— Antes, achava besteira esse papo de crise dos
30. Mas, não é não, cara, surtei quando fiz 30 (risos). Não quero
passar pela vida sem ter um filho. Quero ser mãe. O ruim é que parece que a
mulher tem prazo de validade, né? — reflete.
E antes de se dedicar à maternidade, Rosanne já
tem planos para quando a novela chegar ao fim, em dezembro. Quer voltar aos
palcos, outra paixão. E não descarta um novo papel na TV.
— Pode até ser uma resposta meio óbvia, mas
adoraria viver uma vilã — diz, pensativa.
Por enquanto, a atriz vai se deixando levar
pelas possibilidades. Para a fama, ela jura que não liga. Desde que decidiu
enveredar pelo meio artístico, afirma, sua meta é conseguir viver bem com o que
ganha.
— Aos 16 anos, disse para mim: ‘Se eu conseguir
trabalhar com isso e pagar minhas contas, já vou ser feliz’. Consegui. E estou
conseguindo!
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